Mercado PET desconhece crise econômica e, agora, busca a expansão


Canis da Grande BH se beneficiaram da procura por animais desde o início da pandemia, estimulada pelo isolamento social, e tentam aumentar a oferta

 

A visão de um oásis protegido dos duros impactos da COVID-19 sobre a economia parece bem expressar o comportamento do mercado de produtos e serviços PET, que exibiu crescimento estimado em 13,5% no ano passado, de acordo com o Instituto PET Brasil. O faturamento do setor superou R$ 40 bilhões e as empresas também não têm do que reclamar neste ano.

Em Belo Horizonte e Região Metropolitana, donos de canis comemoram a procura aquecida por cães de raças variadas de pequeno a grande porte, desde o surgimento dos primeiros casos de contaminação pelo coronavírus. Como mandam as leis da demanda e da oferta, faltaram animais para atender clientes ávidos pela companhia dos melhores amigos do homem com a quarentena forçada para deter o avanço da doença respiratória. Os preços dos bichos dispararam 30% e embora as vendas tenham se acomodado após crescimento veritigonoso, o tempo de prosperidade se mantém.

 

O criador Cláudio Abreu afirma que as vendas se estabilizaram neste ano, mas em níveis superiores àqueles anteriores à pandemia. “Houve aumento de 50%. Nos primeiros meses após a pandemia, o crescimento foi brusco e o mercado continuou aquecido. Agora, estabilizou um pouco, mas ainda está melhor do que era antes da pandemia, inclusive. Vejo alguns amigos de outros segmentos do mercado reclamando, enquanto o nosso não enfrentou crise”, afirma. Ele é proprietário de canil especializado na raça golden retriever, Bristol Goldens, no Bairro Palmares, na Região Nordeste da capital mineira.

Os filhotes são vendidos por R$ 5 mil na empresa de Cláudio Abreu, preço que pode alcançar R$ 15 mil caso o tutor tenha interesse em um animal para competições. “O preço foi valorizado, não só pela procura, mas também por causa do aumento de todos os gastos que temos no canil. O preço da ração, principalmente. Os serviços também encareceram automaticamente”, destaca.

A empresária Cristine Nunes sonhava em ter um amigo canino e optou por satisfazer o desejo diante das restrições impostas pelo isolamento social para a conter a disseminação do coronavírus. Ela e o marido planejavam uma gravidez, mas preferiram evitar riscos da gestação em plena crise sanitária. Quem passou a fazer parte da família foi a cadela Tequila, golden retriever que chegou à casa deles em outubro de 2020.

 

Para Cristine, Tequila foi fundamental ao criar um clima de leveza dentro de casa. “Ela ajudou bastante, trouxe muito mais alegria para a casa, apesar de toda a bagunça”, conta. “Quanto você está cansada do trabalho e vê alegria dela seu ritmo já muda. Sou apaixonada por cachorros, meu sonho é ter vários deles, mas, como moro em apartamento, e a Tequila é grande fica complicado ter outro animal”.

Alan Viana, dono do canil Filhotes BH, localizado no Bairro Caiçara, Região Noroeste da cidade, confessa que se surpreendeu com a expansão das vendas, mesmo após 18 anos de atuação no ramo. Ele vende cachorros de seis raças de porte pequeno, shih-tzu, lhasa apso, maltês, yorkshire, pug, bulldog francês, pequinês e lulu da pomerânia.

 

“Pessoas que nunca pensaram em comprar um cachorro estão comprando. Pensávamos que seríamos prejudicados assim como outros setores durante a pandemia, mas foi o contrário. Vi minhas vendas aumentarem 300%. Por causa da demanda maior e por não ter a quantidade de cães para atender todas as pessoas, os preços também aumentaram. Houve alguns reajustes desde quando a pandemia teve início até agora, acredito que consideráveis 30%”, disse o proprietário.

 

Demanda inesperada Atuando há mais de 30 anos no mercado de venda de animais, o Canil Krusemark confirmou o bom período de crescimento, segundo os sócios do estabelecimento, Karla Krusemark e o filho Guilherme. “Foi vertiginoso. Com o aumento da demanda, o preço também disparou. No primeiro ano de pandemia, até dezembro, tivemos crescimento de vendas de mais de 50%. Os valores também cresceram”, disse Guilherme.

A empresa, localizada em Esmeraldas, na Região Metropolitana de BH, é especializada na venda dos cães da raça spitz alemão e lulu da pomerânia. Karla contou que o alto custo dos animais domésticos não impediu a expansão da carteira de clientes durante a pandemia. “São cachorros caros, mas mesmo assim aumentou muito a demanda. Na pandemia, os animais que vendíamos por R$ 8 mil passaram a custar R$ 15 mil. E vendíamos quatro ou seis filhotes ao mês”, observa.

 

Com o crescimento inesperado da procura, faltaram cães em estabelecimentos como os da família Krusemark e de Alan Viana. “Não somos uma empresa de eletrônico que consegue aumentar a produção rapidamente. Temos que comprar mais cachorros, fazer o cruzamento, todo um processo demorado. Então, quando percebemos essa tendência de aumento, também buscamos ampliar nosso canil”, afirma Guilherme.

 

Aposta voltada para o efeito home office 

 

Além da próspera venda de animais, Alan Viana também se aproveitou da oportunidade de aumentar os lucros com a venda de acessórios, como produtos de higiene, camas, comedouros, brinquedos e itnes para o transporte, que abriram o caminho para aumento de preço. De acordo com a consultoria Euromonitor International, o setor de apetrechos e alimentos para pets cresceu 87% nos últimos cinco anos.

“Como as vendas aumentaram no mercado pet, os fabricantes acabaram tendo um pequeno reajuste e tivemos que passar para o cliente. Mas não foi como a venda dos cachorros. Neste caso, não tínhamos o suficiente para atender os clientes”, diz Alan.

 

Cláudio Abreu, criador especializado na raça golden retriever, conta que a procura por animais de pessoas que vivem sozinhas foi expressiva. “Acho que buscam uma companhia já que por causa da pandemia não podem estar com outras pessoas”, afirma.

 

Segundo estudo realizado pela revista “Journal of Veterinary Behaviour” em 2020, com base em quase 1.300 respostas a uma pesquisa feita durante três semanas de confinamento os animais de estimação representam benefício para a saúde mental, emocional e física das pessoas. Três em cada quatro entrevistados responderam que seu gato ou cachorro os ajudou a superar o confinamento.
 

Para Guilherme Krusemark, do canil que leva o seu sobrenome, a demanda deve se manter ativa.“Acho que no início da pandemia, a maioria pensou que não fosse durar muito. Mas, logo depois, as pessoas perceberam que deviam ter um ambiente mais propício para ficar em casa. Essa tendência deve continuar em alta com o aumento do trabalho em home office, por exemplo”.

Fonte: Estado de Minas 

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