O que o mercado da medicina veterinária pode esperar para 2023?
Inovações tecnológicas, como a inteligência artificial e a automação, além de aplicativos para telemedicina e conexão entre tutores e veterinários, estão entre as soluções a serem vistas e utilizadas neste ano
Ano após ano, a medicina veterinária tem se atualizado conforme as inovações tecnológicas e mercadológicas surgem. Muitas destas mudanças trazem soluções proveitosas para o segmento como um todo, permitindo uma absorção por tutores, pets, médicos-veterinários e outros profissionais.
Em 2022, muitas tendências surgiram para facilitar a vida destes agentes, permitindo que agora pensemos em cenários, oportunidades e desafios para o setor em 2023. Se você quer saber o que o mercado da medicina veterinária pode esperar para este ano, confira algumas novidades abaixo:
Telemedicina veterinária
Um dos destaques de 2022 foi a resolução que regulamenta a telemedicina pelo Conselho de Medicina Veterinária. A ideia é utilizar plataformas digitais para prestar assistência aos tutores e animais, dentro dos padrões técnicos e condutas aderentes à resolução.
"Trata-se de um avanço que permite mais conforto e segurança para todas as partes envolvidas em um atendimento veterinário", diz Lucas Guedes, CEO de uma startup que conecta profissionais veterinários e tutores.
A tecnologia se desmembra em seis componentes: teleconsulta, telemonitoramento, teletriagem, teleorientação, teleinterconsulta e telediagnóstico.
"Acredito que a regulamentação desse tipo de contato entre profissionais, tutores e animais domésticos deve democratizar o acesso ao atendimento especializado nos próximos anos, sendo uma vitória importante para o segmento", completa Lucas.
Consultas em domicílio
Como um efeito da pandemia de Covid-19, muitos tutores aderiram ao atendimento em domicílio como forma de se expor menos, gerando mais oportunidades de crescimento profissional para os médicos-veterinários em atividade.
Agora, é possível agendar consultas com facilidade, permitindo que os tutores não se preocupem com problemas como o trânsito, pets estressados com o transporte ou tempo perdido esperando o atendimento em consultórios.
Considerando os benefícios da solução, é provável que um maior público se interesse por essa modalidade em um futuro próximo, e que mais pets recebam o cuidado que precisam enquanto são poupados de estresse.
"Não será uma grande surpresa se o atendimento em domicílio e a telemedicina intermediada por aplicativos seja um serviço mais procurado por brasileiros e brasileiras. O fato é que todos os amantes da medicina veterinária, dos animais domésticos e do mercado pet em geral têm muitas razões para estarem otimistas em 2023", diz Lucas.
Inteligência artificial para diagnósticos
A inteligência artificial (IA) é um campo da ciência que cresce exponencialmente, sendo utilizado também na medicina veterinária. Hoje, grandes conjuntos de dados de imagens e exames de pacientes animais são utilizados para o treinamento de softwares de IA a fim de interpretar resultados, detectar doenças e recomendar alternativas diagnósticas e próximos passos.
O benefício é que a tecnologia garante suporte para decisões clínicas confiáveis, inteligentes e eficientes. Alguns exemplos no universo da medicina veterinária são os estetoscópios operados por IA, que ajudam a reconhecer arritmias e doenças cardíacas. Há ainda a identificação de elementos celulares na microscopia automatizada.
A IA também permite que o profissional evite interromper as atividades para testar novamente as amostras, já que os analisadores inteligentes atuais podem emitir alertas úteis e feedback ultra-específico em casos de erros amostrais.
Dados os benefícios da tecnologia e o seu emprego cada vez maior em nosso dia a dia, é válido dizer que a inteligência artificial será ainda mais absorvida pela medicina veterinária em 2023.
Concomitantemente, a inteligência artificial também tocará o varejo, seja na oferta de brinquedos inteligentes e coleiras ao GPS, e outras ferramentas.
Testes Point of Care (POC)
Ainda falando de diagnósticos, outra solução importante para o setor animal da atualidade é o recurso de Point of Care (POC) – testes no ponto de atendimento, em português. Trata-se de testes rápidos que podem ser utilizados durante a consulta veterinária, possibilitando um acesso mais rápido aos resultados e aos diagnósticos e, assim, agilizando a tomada de decisão referente ao tratamento.
Existem diferentes testes POC baseados nas mais diversas tecnologias. Os mais utilizados são aqueles que usam anticorpos como biosensores (imunoensaios) ou equipamentos portáteis com diferentes metodologias analíticas – entre elas colorimetria, analisador óptico ou eletroquímica. Já a metodologia utilizada depende do tipo de componente a ser avaliado.
A vantagem desta solução é uma maior conveniência e tranquilidade ao tutor, que pode agir de forma mais rápida em prol da saúde de seu pet. Muitos dos testes POC trazem os resultados em poucos minutos, o que reduz o tempo de espera. Além disso, há o fato de poderem ser realizados a partir de um pequeno volume de amostra de sangue ou urina, por exemplo.
Estes testes podem ser realizados em diferentes tipos de ambientes veterinários – como clínicas, laboratórios, hospitais e universidades –, mas sempre por profissionais habilitados.
Medicina preventiva
Segundo o médico-veterinário Henry Berger, o nível de medicalização e standard of care no Brasil é ainda muito baixo. "Os veterinários e tutores deverão se educar mais em implementar exames de check-up em pets sadios, e adotar protocolos de prevenção que vão além das vacinas e anti-parasitários."
Assim, a medicina preventiva surge como uma aliada. Como o nome sugere, ela trabalha a fim de evitar o aparecimento de doenças nos animais ou detectar enfermidades já nos primeiros sinais, principalmente naqueles cuja raça ou histórico familiar trazem pontos de atenção.
A área se constitui como um pilar para a manutenção dos pets e seus tutores, dialogando com a nutrição, vacinação, detecção e prevenção de parasitoses, periodontia e geriatria animal.
A procura dos tutores pela medicina preventiva, porém, caminha a passos curtos devido à dificuldade de acesso e carência de iniciativas públicas. Mas, uma vez popularizada, a área pode ser uma aliada no combate precoce a doenças.
Planos de saúde
Assim como fazem com os humanos, os planos de saúde garantem aos pets segurança e atendimento de qualidade. Modelo consideravelmente novo, a solução também vem se atualizando e, para 2023, promete uma maior democratização e versatilidade.
Desta forma, os tutores podem ficar mais tranquilos quanto ao investimento – que pode ultrapassar os R$ 250 mensais em planos mais exclusivos –, já que a abrangência será maior, com mais clínicas, hospitais e serviços sendo ofertados pela cobertura.
Redes de hospitais
Algumas empresas e executivos buscam atualmente mudar o cenário de "oceano azul" do mercado de saúde de pets. Para isso, estão apostando na construção de rede de hospitais animais.
A ideia é criar um portfólio com hospitais-referência e focar em serviços de alta complexidade, como diagnósticos, internações, cirurgias e especialidades cardiologistas, oncologistas, ortopedistas e odontologistas.
É uma solução diante dos hospitais regionais pouco profissionalizados e que busca oferecer uma medicina de ponta através da profissionalização, melhores práticas e tecnologia.
Um dos três grandes players interessados neste nicho, por exemplo, tem um portfólio que inclui vacinação, check-up, orientação nutricional e até procedimentos mais complexos, com estruturas para centros cirúrgicos, alas de reabilitação e salas para quimioterapia e tomografia. Parte das unidades funciona 24 horas e também oferece atendimento domiciliar.
Daqui em diante, tutores e médicos-veterinários podem esperar a expansão destas redes por todo o Brasil.
Especialidades farmacêuticas em alta
Faz um tempo que a concepção humana sobre os animais vem mudando e os pets têm sido considerados pelos tutores como membros da família. Essa nova configuração garantiu maiores cuidados em relação aos bichos, que ganharam qualidade de vida e passaram a viver por mais tempo.
Com uma maior longevidade, porém, desenvolvem-se doenças de diversos tipos – crônicas, oncológicas, neurológicas, metabólicas, articulares e dermatológicas. Assim, as empresas farmacêuticas deverão lançar e colocar em desenvolvimento novas classes farmacológicas para o tratamento e prevenção destas enfermidades.
Nutrição especializada
Assim como a área farmacológica responderá à nova realidade de saúde dos pets, é possível esperar que as empresas de nutrição trarão ao mercado rações e suplementos alimentares para o suporte ao tratamento de doenças, condições metabólicas e animais em convalescença.
Sistemas de distribuição
Segundo Henry, também há no horizonte uma emergência de novos canais de distribuição no mercado pet, como plataformas de e-commerce e maior relevância e protagonismo do veterinário/clínica na prescrição, recomendação e venda de medicamentos.
Automação
A tecnologia de automação também deve se popularizar no varejo, permitindo que comedouros, bebedouros e caixas de areia (autolimpantes), por exemplo, operem sem intervenção humana.
Além disso, ela permitirá que sensores mensurem a atividade dos animais — por exemplo, em comedouros ativados por presença, portas que se abrem apenas para o pet da família, monitores de comportamento, rastreadores de saúde, scanners de temperatura, tags inteligentes, etc.
Aqui cabe também a inclusão dos aparelhos de monitoramento à distância, que permitem visualizar o pet através de câmeras e uma comunicação bidirecional, por meio da qual o tutor pode conversar com o bicho. Além disso, estas ferramentas podem comportar funcionalidades como emissão de sons relaxantes para animais, cheiros calmantes e dispenser de petiscos.
Estas são apenas algumas tendências do universo dos animais e da medicina veterinária para um futuro próximo — mas, sendo o mercado pet um setor crescente no Brasil e no mundo, a estimativa é que as atualizações e soluções inovadoras não parem de surgir.
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